A novela “Três Graças”, escrita por Aguinaldo Silva, Virgílio Silva e Zé Dassilva, vem se destacando pela forma cuidadosa com que desenvolve sua narrativa. O roubo da estátua que dá nome à trama não é um evento isolado ou forçado, mas sim o resultado de uma construção sólida que respeita o tempo da história e a coerência dos personagens.
Desde o início, os autores introduzem elementos que se tornam essenciais no desenrolar da trama. A atitude de Cristiano (Davi Luis Flores), por exemplo, de gravar tudo com o celular, é apresentada como algo natural para uma criança de sua idade e ganha importância decisiva mais adiante. Da mesma forma, Rivaldo (Augusto Madeiro) é mostrado como um personagem atento e investigativo, o que torna crível sua reação diante das gravações feitas pelo filho.
A novela também lida com temas delicados com responsabilidade narrativa. O tapa de Joaquim (Marcos Palmeira) em Gerluce (Sophie Charlotte) não é gratuito, mas contextualizado dentro do perfil do personagem e das tensões familiares que vinham sendo trabalhadas. Arminda (Grazi Massafera), por sua vez, mantém sua personalidade forte mesmo em situações extremas, como ao ser ameaçada com uma arma, reforçando a consistência da caracterização.
Outro destaque é a forma como o roubo é retratado. Com falhas, improvisos e erros, o plano reflete a realidade de pessoas comuns tentando mudar suas vidas, e não de criminosos experientes. Essa abordagem humaniza os personagens e dá verossimilhança à história. A novela não tenta transformar seus protagonistas em heróis ou vilões, mas os apresenta com todas as suas limitações e motivações.
“Três Graças” mostra que uma novela bem escrita não precisa apressar os acontecimentos ou recorrer a reviravoltas forçadas. Ao confiar em sua própria narrativa e nos personagens que criou, entrega um clímax coerente e impactante. É um exemplo de como o texto pode ser valorizado quando há respeito pela lógica interna da trama e pelo público.


